Meus Estudos Em Rede: A Essência da Escola

13 setembro 2005

A Essência da Escola

CONGRESSO SABER 2005
A ESSÊNCIA DA ESCOLA
em 3 de setembro de 2005
(anotações)
Gabriel Perissé
http://www.perisse.com.br/

O que será que perdemos da essência da escola? E quando o perdemos? Mas... qual é mesmo a essência da escola?
Para que a escola seja (ou volte a ser) lugar privilegiado em que professores e alunos dialogam e se sentem realizados, precisamos identificar/recuperar o ser da escola (essência vem do verbo latino esse, que significa “ser”), acreditando que a utopia é sempre um “impossível necessário” — um estímulo para que persigamos o melhor.
A essência da escola encontra-se disseminada em experiências históricas do passado e do presente. É preciso realizar uma verdadeira viagem filosófica, pedagógica e literária à noção de escola para reaprender a conceituá-la (e tenhamos maiores chances de concretizá-la em nosso dia-a-dia).
Nosso primeiro salto histórico vai até o século XVII. No seu livro Didática Magna, o educador tcheco Johan Comenius (1592-1670).

Nascido na região da Morávia, na atual República Tcheca, em 28 de março de 1592, era de família eslava e praticante do protestantismo. Morreu em 15 de novembro de 1670, e foi enterrado em Naarden, Holanda.
escreveu:
Scholae sunt humanitatis officinae.
As escolas são oficinas da humanidade, pois fazem que os seres humanos sejam seres humanos, sejam autênticas pessoas.
Ser pessoa, pedagogicamente falando, é ser aquele que aprende. Aprendemos de hora em hora. Vivendo e aprendendo. Morrendo e aprendendo. Aprendendo para viver melhor. E aprendemos, sobretudo, quando estamos disponíveis para aprender. Estar disponível, vivendo o ócio (livres da necessidade de realizar negócios...), segundo Platão, Aristóteles e outros pensadores antigos, é viver plenamente. Aristóteles diz no seu livro Política: “O primeiro princípio de toda a ação é o ócio” e: “Os homens devem ser capazes de trabalhar e guerrear, mas o ócio e a paz são melhores.”
O ócio (proveniente do latim otium) refere-se à palavra grega scholé, da qual vem “escola”. O seu significado: “tempo livre, tranqüilidade para amadurecer, estudo”. Os latinos traduziram como schola, que deu lugar a escuela (espanhol), school (inglês), escola (português). Em latim schola é o “tempo consagrado ao estudo” e, em segundo lugar, o local onde se estuda.
Assim, a escola é especialmente o tempo. Estudamos toda vez que temos tempo livre, onde quer que estejamos. Tempo de liberdade. O que, de acordo com a mentalidade grega, faz pensar, por contraste, no tempo produtivo, no tempo não-livre, no tempo dedicado aos “negócios” (nec-otium, o não-ócio) . O tempo não-livre existe para que tenhamos tempo livre, o tempo das atividades de formação, de cultivo de nós mesmos, de conversa inteligente, de contemplação da arte, de contato com os deuses, de amadurecimento.
Traduzir scholé por “tempo escolar” ou “tempo livre”, isto é, ocasião para crescimento pessoal, em grupo ou individualmente, em oposição a um tempo de não-ócio, leva a pensar que existem duas formas básicas de encarar a existência. Ou eu trabalho com a finalidade de dispor de tempo para descansar, pensar, ler, escrever, rezar, conversar, criar... ou eu descanso um pouco à noite, no final de semana, um mês por ano... para voltar a trabalhar com mais ardor, produzir, fazer, vender, vencer economicamente... O ócio, segundo a maneira produtiva de viver, é visto como vício: preguiça. O ócio só teria sentido visto como lazer, necessário (admissível...) para permitir à pessoa voltar a trabalhar com novas energias, mais “pilhado”.
A visão “escolar” faz-nos olhar o trabalho, não como finalidade, mas como meio, como instrumento para que depois disponhamos do tempo privilegiado da reflexão, do amor, da amizade, do convívio familiar, do diálogo intenso, da leitura profunda, da criatividade.
Nossa sociedade se caracteriza pela multiplicação dos meios desumanizantes (que se transformam em fins) e pelo estreitamento do horizonte das finalidades humanizadoras. Cada vez menos pessoas são capazes de propor-se metas que já não estejam socialmente pré-fabricadas e que são, afinal, metas voltadas para a consecução dos próprios objetivos sociais ou objetivos egoístas sancionados pelo egoísmo coletivo. Somos levados... arrastados pela vertigem do consumo e do sucesso, e as crianças também! Temos de produzir, ser bem-sucedidos, obter bens materiais, até mesmo ostentar “qualidade de vida”... Numa primeira reunião de escola, o pai do filho de 4 anos pergunta se o estabelecimento de ensino garantirá que o filho passe no vestibular daqui a 15 anos!
O ócio é perder tempo com algo essencial — essencialmente humano! Portanto, não é perda de tempo. Não é tempo perdido, é sagrado e consagrado. Tempo humanizador. O mais difícil dos vestibulares: aprender a viver.
Todo ser humano está dotado de possibilidades. Todos nós podemos ser melhores (“Torna-te aquilo que tu és”, dizia o poeta Píndaro). Mas precisamos descobrir essas possibilidades, essa vocação profunda, exercitar-nos. Daí a necessidade de tempo e espaço propícios. A escola é esse tempo-espaço. Deveria ser. O ócio: ocasião para uma grande atividade. Preguiçoso, paradoxalmente, é aquele que foge das atividades do ócio, pois nessas atividades ociosas encontramo-nos conosco mesmos, com a perspectiva da nossa morte (temos de aprender a morrer com dignidade), com os nossos relacionamentos, esses encontros não serão estereotipados, descartáveis, fáceis...
O ócio não é a vagabundagem. Pressupõe atividades profundamente humanizadoras e de certo modo... “cansativas”: a reflexão filosófica, a contemplação estética, a vivência religiosa, a compreensão dos motivos do outro... Por isso Aristóteles citava um provébrio do seu tempo: “Não há ócio para os escravos”. Podemos interpretar: um ser escravizado não conseguirá viver o ócio...
Otium cum dignitate, dizia Cícero, ócio com dignidade. O ócio não é mero entretenimento, não é lazer ou divertimento alienante — é a busca da dignidade humana. Não é não fazer nada, dispersar-se, “esfriar a cabeça”, relaxar... É, na verdade, fazer tudo o que há de mais importante: a busca da sabedoria. O que implica uma certa tensão espiritual. Não se trata de passar o tempo, de perder o tempo, mas de penetrar no tempo (no instante eterno) para mergulhar no essencial. Sem dúvida, é uma audácia, ou até uma ofensa, para a mentalidade pragmática defender o ócio, e assegurar que o ócio dá trabalho...
No entanto, o ócio continua a ser uma tarefa urgente. No ócio, paramos para pensar. Ou seja, no ócio paramos externamente para correr no labirinto do autoconhecimento, para investigar nossa condição de seres humanos, para fazer perguntas, para estudar (o estudo por tudo se interessa). A escola é o lugar do recreio... para recriar energias existenciais, para ver com melhor visão, para ouvir com melhor audição, para perguntar... para obter uma intepretação humana da sociedade, para ouvir um chamado: “seja o ser humano que você ainda não é plenamente”.
Um antigo provérbio português:
Quem para si não sabe, não ponha escola.
Ora, o que quer dizer este provérbio?
A coerência. A nossa utopia, o nosso “impossível necessário” exige uma continuidade entre idéias e conduta, entre conceitos e comportamento. A difícil e trabalhosa coerência. O ócio começa em casa. Na escola pessoal.
Qual a minha escola pessoal? O que eu leio? O que eu vejo? O que eu ouço? E como leio, vejo e ouço? O que é essencial na minha vida?
Qual é o interesse de cada professor? Interesse, inter + esse = latim: no interior, dentro (inter) do ser (esse).
O peixe apodrece pela cabeça. E pela cabeça começamos a reinventar a realidade.
As realidades começam como irrealidades mentais. Para fazer escola, para pôr escola, eu pergunto sobre mim. Sobre a minha realidade e meu sistema de convicções.
Recorramos ao poeta grego Teócrito (c. 310-250 a.C.).
, que escreveu os seguintes versos:
Vigie seus pensamentos, porque eles se tornarão palavras;
Vigie suas palavras, pois elas se transformarão em atos;
Vigie seus atos, porque eles se tornarão seus hábitos;
Vigie seus hábitos, pois eles formarão seu caráter;
Vigie seu caráter, porque ele será o seu destino.
Os meios e os fins da formação de que todo ser humano precisa! E de que nós, professores, necessitamos de modo especial, pois somos realidade eloqüente na escola.
Leiamos e analisemos com atenção o poema de Teócrito.

Pensamentos, palavras, atos e hábitos
A palavra “vigiar” tem aqui um sentido positivo. Vigiar é cuidar, é acompanhar, é estar atento a alguma coisa valiosa. A etimologia nos ensina que a palavra vem do latim vigilare, e significa “não dormir”. Não podemos cochilar nessa tarefa de autoformação. Vigiar os pensamentos é conhecer nossas idéias. Saber que pensamentos povoam nossa mente. Leonardo da Vinci dizia que quem pensa pouco erra muito. E o filósofo espanhol Ortega y Gasset explicava que pensar é o ato de capturar a realidade por meio das idéias.
No que eu penso quando não estou pensando em nada? Neste momento, descobrirei as idéias que tenho, e talvez descubra também que nunca verifiquei até que ponto concordo realmente com as minhas idéias! Ou até que ponto minhas idéias concordam com a realidade...
As idéias precisam ser verificadas. Há aquela piada de um homem que não era propriamente um cumpridor dos seus deveres. Batia na mulher, embriagava-se diariamente, vivia pulando de emprego. Até que um dia morreu. E de repente, no velório, entrou um amigo do defunto. E começou a discursar, elogiando o “marido exemplar”, o “cidadão impecável”, o “trabalhador infatigável” que o mundo acabara de perder. Virando-se então para o filho mais velho, a viúva cochichou: “Filho, vai ver se é o teu pai mesmo que está lá no caixão”.
Temos de verificar, ver se é verdadeiro, ou meio verdadeiro, ou 20% verdadeiro, ou 1% verdadeiro cada pensamento que habita nosso cérebro. Este exercício nos ajudará a pensar em nossas palavras.
As palavras que dizemos nascem dos pensamentos que cultivamos. Palavras o vento leva, como afirma o ditado, e a pergunta é: para onde o vento leva as nossas palavras? Leva-as para a mente e o coração de outras pessoas. São mensagens que nem sempre retornam ao remetente. Uma palavra, dizia o filósofo Aristóteles, é como uma pedra lançada, depois de arremessada não há como fazê-la voltar.
Entre todos os recursos de que dispõem os professores, a palavra é o mais acessível, e o mais decisivo. Há retroprojetores, há apostilas, há slides, mas a palavra do professor é sempre aquele recurso didático que toca a inteligência, a imaginação e a vontade dos alunos.
Vigiar nossas palavras é saber que palavras falamos e o que queremos dizer com o que falamos. Certa vez, uma professora, a título de brincadeira, começou a chamar seus alunos de energúmenos. Falava em tom de brincadeira, porque a palavra (cujo significado desconhecia) parecia-lhe divertida. Os alunos também não conheciam a palavra e encaravam aquilo com tranqüilidade, achando graça do apelativo. No entanto, um belo dia (dia não tão belo...), uma aluna resolveu consultar o dicionário, e se revoltou:
— Professora, como a senhora ousa nos chamar de energúmenos?!
— Como assim...? É uma palavra como outra qualquer...
— A senhora não sabe o que significa “energúmeno”?
— Não...
— Pois devia saber! Energúmeno, professora, é o possuído pelo demônio, e, como também diz o dicionário, um indivíduo desprezível, que não merece confiança, boçal, ignorante...
A professora não tinha palavras para se desculpar! Ficou em silêncio, e no silêncio entendeu que, além de pedir perdão, deveria aprender a vigiar suas palavras. A pensar duas vezes antes de falar! Porque nenhuma palavra é uma palavra qualquer...
Vigiando nossas palavras, tornamo-nos pessoas atentas aos nossos atos. Nossa conduta, em geral, é uma conseqüência de nosso discurso. Ou pelo menos deveria ser.
Afora os casos de incoerência crônica entre o que dizemos e o que fazemos, nossas palavras levam-nos a agir. Se fazemos uma promessa é porque teremos que cumpri-la. Promessa é dívida. Se eu me comprometo a seguir um roteiro, a cumprir uma tarefa, a realizar uma missão, empenho minha palavra. E minha palavra empenhada obriga-me a agir em conseqüência.
Vigiar nossas ações é ter consciência do que de fato fazemos. Quais são as minhas ações cotidianas? No mundo da docência, concretamente, como eu atuo na sala de aula? Sou pontual? Como trato os alunos, os colegas? Qual é a minha postura física em sala de aula? Como me comporto quando sou contrariado(a)? Que reações eu tenho diante de uma pessoa com quem por acaso não simpatizo?
Estar consciente do que fazemos é vigiar nossos hábitos. Os hábitos, na visão da filosofia clássica, consiste naquele comportamento habitual, que se tornou praticamente automático. Escovar os dentes, por exemplo, pode se tornar um hábito (um bom hábito para ter um bom hálito...), ao ponto de que, mal terminamos uma refeição, vamos escová-los, como de hábito, sem que ninguém precise nos lembrar!
A repetição de atos leva à constituição de hábitos. É fundamental vigiar nossos atos, pois, repetidos, acabam se tornando rotina. Uma rotina eficaz, se os hábitos são bons, ou uma rotina escravizante, se os hábitos são maus.
Alguém que mentiu uma vez, e outra, e outra... tornar-se-á um mentiroso habitual. Alguém que se acostumou a arrumar seus livros e cadernos adquirirá o hábito (a virtude) da organização.

Hábitos, caráter e destino
Vigiar nossos hábitos consiste em verificar que hábitos estamos adquirindo. Permitir que hábitos ruins lancem raízes profundas em nossa vida é correr o risco de tornarmo-nos prisioneiros dos nossos erros. Por isso é importante conhecermo-nos bem, e estarmos dispostos a mudar. Uma das frases humanas mais terríveis e menos criativas, a meu ver, é aquela que já ouvi de algumas pessoas: “Nunca me arrependo de nada!”
A atitude de revisar os próprios hábitos é fundamental, uma vez que, conforme o poema analisado, os hábitos formarão nosso caráter.
A personalidade é aquilo que trazemos marcado em nosso ser desde o nascimento. Há pessoas com uma personalidade mais tímida, uma personalidade mais extrovertida... Há personalidades mais emocionais, outras mais racionais... Isso, inclusive, não implica um julgamento moral. Um santo pode ser tímido e um assassino pode ser mais tímido ainda... Todas as personalidades são boas, ainda que diferentes. Já o caráter é algo que nós mesmos gravamos em nós, é o estilo de vida que criamos para nós mesmos, e é aquilo que passa a nos caracterizar perante os outros.
Se a personalidade não implica um julgamento moral, o caráter é conseqüência dos nossos hábitos, das nossas decisões, das nossas livres opções, e sobre o nosso caráter podemos e devemos realizar uma avaliação. Até que ponto meu caráter condiz com as leis do aperfeiçoamento humano e da convivência social? E por isso devemos vigiá-lo, vigiarmo-nos, pois o nosso caráter determinará o nosso destino.
Mesmo sendo tímido, por temperamento, posso, por livre decisão, ser uma pessoa altruísta. Ser altruísta, vencer a tendência ao egoísmo, ser solidário, nisso vemos um esforço ético. Um caráter altruísta levará a um destino diferente do daquela pessoa que se fecha voluntariamente no egoísmo.
Uma história hindu: certa vez, um homem, tendo morrido, foi enviado ao inferno para pagar o mal que fizera durante toda a sua vida. Sofrendo os tormentos das profundezas, um dia ouviu uma voz do alto: “Pode ser que haja uma esperança para ti. Procura te lembrar de algo bom que tenhas feito.” Ele refletiu e disse: “Nunca fiz nada de bom a ninguém, todas as minhas ações sempre foram péssimas, sempre foram a expressão da maldade.” A voz insistiu: “Tens certeza? Não importa quão pequena tenha sido a ação. Ajudaste alguma pessoa? Ajudaste ao menos um animal?”
O homem redobrou seus esforços, e conseguiu lembrar: “Sim, uma vez, andando na floresta, vi uma pequena aranha, e pensei comigo: ‘vou desviar meu passo para preservar a vida desta pequena criatura’.” A voz respondeu: “Tua ação te salvou. E é a mesma aranha que vai te livrar deste lugar de sofrimento.”
Na mesma hora, um longo fio de teia de aranha veio de cima. Ele deveria agarrar-se a ele para subir, e foi o que fez. Enquanto subia, olhou para baixo e viu que outros condenados estavam aproveitando o mesmo fio para saírem do inferno. Revoltado, começou a gritar: “Desçam, seus idiotas! Soltem meu fio agora! Este fio é meu, é só meu!” Ao dizer estas palavras, o fio se rompeu e ele caiu de volta nas chamas eternas que destroem sem consumir.
A moral da história é mais do que óbvia.

Onde não há entusiasmo, ponha entusiasmo!
Para nos tornarmos melhores professores, além da preparação técnica, necessitamos crescer como pessoas. Nossos alunos esperam encontrar em nós mais do que uma apostila ou um software podem fazer. Um professor comentava comigo que quase quis morrer quando um aluno lhe disse, nos dez primeiros minutos de uma de suas aulas: “Professor... isso aí eu já vi na TV, posso dormir?”
Mais do que morrer, o meu amigo professor deveria querer ressuscitar, pois mortos já estamos quando um aluno não vê o que pode ganhar ficando acordado em nossa sala de aula. O que faz da sala de aula um lugar para acordar? Por que a TV é mais empolgante e instrutiva do que um professor de carne e osso?
O professor do futuro deve ser um artista, transformar-se em conhecimento vivo. Dizem os que conversam com o músico Hermeto Pascoal, que ele já não fala... emite sons musicais... metamorfoseou-se em instrumento musical. Os professores devem transformar-se naquilo que devem ensinar, encarnando o conhecimento, dando-lhe brilho, e despertando, assim, o interesse dos alunos pela pesquisa, pelo conhecimento, pelo aperfeiçoamento.
Escreveu o poeta espanhol Juan de la Cruz: “Onde não há amor, põe amor e tirarás amor.” Eis aqui uma dessas frases tão simples quanto profundas. Onde não há entusiasmo pelo estudo, põe entusiasmo pelo estudo, e colherás entusiasmo de seus alunos. Num campo semântico bem diferente do da palavra “energúmeno”, a palavra “entusiasmo” significa, se consultarmos suas origens gregas, estar possuído por um deus, sentir vir à tona o que cada um tem de melhor dentro de si.

Viajemos no tempo outra vez. Estamos agora no começo da era cristã, ao lado de Sêneca (c. 4 a.C.-65 d.C.).
Non vitae sed scholae discimus.

Apertior res est sapere, immo simplicior: paucis est ad mentem bonam uti litteris, sed nos ut cetera in supervacuum diffundimus, ita philosophiam ipsam. Quemadmodum omnium rerum, sic litterarum quoque intemperantia laboramus: non vitae sed scholae discimus. (Carta CVI a Lucílio)
A sabedoria é o que há de mais amplo, e também de mais simples: com algumas poucas leituras é possível formar o espírito adequadamente, isto é, ter uma cabeça bem formada. Contudo, estamos habituados a difundir um excesso de coisas supérfluas, mesmo no campo da filosofia. Exageramos em tudo e até no estudo somos intemperantes: estudamos para a escola... e deveríamos estudar para a vida real!

Mais próximo de nós, séculos XIX, XX. Einstein (1879-1955), que, com 12 anos de idade, ouviu seu professor de grego dizer-lhe que ele, um menino abobalhado, nunca daria nenhuma contribuição relevante para o mundo... define a tarefa essencial do professor e, portanto, da escola:
É tarefa essencial do professor despertar a alegria de trabalhar e de conhecer.

O cultivo da palavra está indissoluvelmente ligado à essência da escola. Prof. Guillermo Jaim Etcheverry (Argentina, séc. XXI).
Ser ouvido


Ainda no contexto do passado mais recente, Gandhi (1869-1948), que foi professor e realizou experiências pedagógicas revolucionárias, oferece um lema para superar dilemas:
Nós devemos ser no mundo a mudança que queremos ver no mundo!!